De vez em quando, tenho contado alguns fatos curiosos, engraçados ou importantes da história do Flamengo.
Todos tirados do livro "100 anos de bola, raça e paixão", que escrevi com os companheiros Celso Júnior e Arturo Vaz.
Esta é sobre o nosso primeiro bicampeonato, em 1915...
Duelos no “tapetão”.
Para o Campeonato de 1915 o Flamengo se reforçou com o inglês Sidney Pullen,
vindo do Paysandu, e com Parras, que atuava pelo América. A competição foi
marcada por muitas brigas fora de campo, problemas que tiveram que ser
resolvidos com firmeza pela Liga Metropolitana de Desportos Athléticos.
Logo na primeira partida o Fla empatou em 2 x
2 com o Rio Cricket e ganhou o ponto perdido logo depois, alegando que o time
dos ingleses havia utilizado um jogador não inscrito. Como estava com a razão,
a Liga devolveu o ponto aos flamenguistas.
Bem,
o Flamengo seguiu seu caminho em busca do bicampeonato. No dia 9 de maio,
sapecou o Fluminense, por 5 x 0. No jogo seguinte, repetiu o placar contra o
São Cristóvão.
Em
30 de maio, mais uma data histórica. No estádio da Rua General Severiano, o
Rubro-Negro conseguiu vencer o Botafogo pela primeira vez. Foi 2 x 1, gols de
Borgerth e Rimer, com Edgard Pessoa descontando para o Alvinegro.
O
primeiro turno terminou com as vitórias de 4 x 2 sobre o excelente time do
América e de 4 x 0 sobre o Bangu.
Uma nova confusão acabaria por ajudar o
Flamengo. Em 18 de julho, O Fluminense vencia o América por 2 a 1, em Campos
Sales, quando o árbitro anulou um gol legítimo dos americanos. A torcida se
revoltou e invadiu o gramado. O árbitro W. Tulk, do Rio Cricket, acuado, voltou
atrás e validou o gol. A Liga decidiu, então, anular o jogo e marcar um novo
confronto, em campo neutro, General Severiano, no dia 1º de novembro.
Antes disso, se desenrolou o segundo turno. O
time seguiu rumo ao bi. Ganhou do Rio Cricket por 3 x 2 e empatou três partidas
seguidas, contra o Fluminense (1 x 1), São Cristóvão (0 x 0) e Botafogo (0 x
0).
Outra partida que gerou muita polêmica, mesmo
antes de ser disputada foi Flamengo x América, no dia 10 de outubro. Corria um
boato na cidade que o time da Tijuca iria “facilitar” as coisas para o
adversário. Paula Ramos, o capitão rubro, não gostou e chegou a publicar nos
jornais uma nota oficial de protesto. Por ironia do destino, o jogo terminou 2
x 2 e o gol de empate do Flamengo foi de... Paula Ramos, contra. O resultado
afastava o América da briga pelo título.
Bicampeão invicto!
No dia 31 de outubro, o Flamengo iria enfrentar o Bangu, no Estádio da Rua
Paysandu, que ainda não era oficialmente a casa do Flamengo. Uma vitória daria
o primeiro bicampeonato da gloriosa história flamenguista. O time entrou em
campo com Baena, Píndaro e Nery; Curiol, Sidney Pullen e Gallo; Arnaldo,
Gumercindo, Borgerth, Riemer e Paulo Buarque. Já o quadro banguense teve
Américo Pastor, Othelo e Emílio; Luiz Antônio, Sterling e Patrick; Leão,
French, Collinge, Antenor e Estácio.
O Fla venceu com tranquilidade por 5 x 1,
gols de Riemer (2), Paulo Buarque, Arnaldo e Gumercindo. Estácio descontou para
o Bangu. Era o bi garantido e, melhor ainda, invicto! Foram oito vitórias e
quatro empates, com 36 gols a favor e 11 contra.
Mas o campeonato ainda não havia acabado.
Lembra daquela partida da confusão entre América e Fluminense? Pois é, as duas
equipes se enfrentaram no dia seguinte ao jogo do Flamengo. O América venceu
por 5 x 3, confirmando o título rubro-negro.
Roberto Assaf e Clovis Martins contam, no
livro História dos Campeonatos Cariocas
de Futebol - 1906/2010, uma passagem que mostra a que ponto estava chegando
a rivalidade entre os clubes do Rio de Janeiro.
“A vitória do América, 5 a 3, afastou o
Fluminense da briga pelo título. O mais curioso é que a diretoria tricolor
viu-se obrigada a cancelar o banquete que realizaria à noite, no Restaurante
Roma, à Rua Sete de Setembro. Os americanos, contudo, não deixaram passar a
oportunidade. Telefonaram para o local e responsabilizaram-se pelas despesas”.
As
façanhas rubro-negras começaram a repercutir no restante do Brasil. Em
dezembro, o time do Flamengo embarcou em um navio para uma longa viagem com
destino a Belém do Pará, onde realizaria uma série de jogos amistosos. No
primeiro deles, venceu a Seleção de Belém por 5 x 1 e conquistou a Taça
Tricentenário de Belém. Passaram o Ano Novo na capital paraense e no dia 1º. de
janeiro de 1916, mais um jogo contra a Seleção e empate em 1 x 1. Em seguida
venceu o Paysandu por 4 x 0, conquistando o Troféu Artístico. Depois levou a
Taça Clube do Remo, ao derrotar o próprio Remo por 3 x 2 e a Taça Jornal Folha
da Manhã ao ganhar a Seleção Paraense por 2 x 0. Os atletas cariocas voltaram
orgulhosos para casa com quatro taças na mala.
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